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Evolução do 5G na Índia e no Brasil - uma história de duas estratégias

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Hardik Khatri, Robert Wyrzykowski

 

A Índia e o Brasil, duas das maiores economias emergentes do mundo, embarcaram em suas jornadas 5G no segundo trimestre de 2022, cada uma elaborando uma estratégia distinta para atribuições de espectro e implantação de rede. Nesta análise, publicada em parceria com o GSMA Spectrum Programme, a Opensignal compara suas abordagens, destacando as vantagens e desvantagens entre as suas diferentes disponibilidades do 5G, velocidade e gerenciamento de espectro que definem a experiência da rede móvel 5G nos dois países.

 

Principais conclusões:

  • A disponibilidade de 5G da Índia é uma das mais altas da região: A partir do segundo trimestre de 2024, a disponibilidade de 5G na Índia disparou, com os usuários de 5G passando 52% de seu tempo em redes 5G. No entanto, as velocidades médias de download do 5G diminuíram, caindo de cerca de 300 Mbps no primeiro trimestre de 2023 para 243 Mbps no segundo trimestre de 2024, principalmente devido ao congestionamento da rede, como resultado da adoção mais rápida do 5G e do aumento do consumo de dados por usuário.

  • As velocidades de download do 5G no Brasil atingiram 350 Mbps: isso se deve ao uso do espectro em faixas médias de 3,5 GHz. No entanto, a disponibilidade do 5G ainda está crescendo, com os usuários do 5G gastando cerca de 11% do seu tempo nas redes.

  • Diferenças no gerenciamento do espectro: na Índia, 16% das leituras 5G usam espectro em faixas baixas (700 MHz), oferecendo ampla cobertura, mas limitando a velocidade. Em contrapartida, 99% das leituras de 5G do Brasil vêm da faixa de 3,5 GHz.

  • Eficiência na largura de faixa do espectro: o Brasil usa larguras de faixas altas (acima de 100 MHz) para 40% de suas conexões 5G, o que resulta em velocidades mais rápidas. Em contrapartida, apenas 18% das conexões 5G da Índia usam larguras de faixa acima de 100 MHz, o que contribui para menores velocidades.

  • Mudança nas tendências de uso da rede: no Brasil, o tempo gasto no 5G permanece estável, com os usuários ainda confiando fortemente no 4G, substituindo o tempo gasto anteriormente nas redes 2G e 3G. No entanto, na Índia, os usuários estão passando cada vez menos tempo no 4G, enquanto o tempo no 2G e 3G não mudou significativamente, sugerindo que o tempo gasto no 4G está sendo gradualmente substituído pelo 5G.

 

Atribuições de espectro e estratégia de construção de rede

 

No segundo trimestre de 2024, dois anos após o lançamento, a disponibilidade do 5G na Índia está entre as mais altas da região, com os usuários da rede conseguindo passar mais da metade do tempo no 5G. No entanto, as velocidades médias de download da rede 5G da Índia diminuíram gradualmente, caindo para 243,3 Mbps no segundo trimestre de 2024, em comparação com 304 Mbps no primeiro trimestre de 2023. 

 

 

Em contrapartida, as velocidades médias de download da rede 5G no Brasil estão se aproximando de 350 Mbps, o que aumentou ligeiramente desde o lançamento do 5G no país. No entanto, a disponibilidade do 5G permanece estável, mas menor em comparação com a Índia, com os usuários da rede 5G passando 10,8% do tempo com um sinal 5G ativo.

 

A implantação do 5G na Índia foi liderada pela Reliance Jio e pela Bharti Airtel, enquanto a Vodafone Idea (Vi) ainda não lançou o 5G. A Jio implementou uma rede de acesso 5G SA (standalone) em larga escala usando 700 MHz para áreas rurais e 3,5 GHz para centros urbanos, com mmWaves (26 GHz) reservadas apenas para aplicativos de alta capacidade. A faixa de 700 MHz garante ampla cobertura, mas a largura de faixa limitada desse espectro resulta em velocidades relativamente mais baixas, principalmente em áreas densamente povoadas. A Airtel, por outro lado, optou por uma abordagem de acesso NSA (non-standalone), implantando o 5G sobre sua infraestrutura 4G existente para implementações urbanas mais rápidas.

 

Gerenciamento do espectro - um ato de equilíbrio 

 

 

As escolhas de gerenciamento de espectro da Índia e do Brasil destacam o delicado equilíbrio entre cobertura e velocidade. Na Índia, uma proporção significativa das leituras de 5G está associada às faixas baixas. Atualmente, 16% das conexões 5G da Índia usam a faixa de 700 MHz, mas a largura de faixa limitada reduz as velocidades de download. O restante usa o espectro da faixa média superior de 3,5 GHz, mas compartilha recursos entre os usuários de 4G e 5G, especialmente nas redes NSA da Airtel, o que pode reduzir as velocidades. A Reliance Jio é a única operadora que detém o espectro na faixa de 700 MHz e o utiliza para 5G na Índia. Embora essa faixa ofereça ampla cobertura, especialmente em áreas densas, ela tem capacidade de largura de faixa limitada, o que leva a velocidades mais baixas à medida que a demanda aumenta. Esse é um fator significativo que contribui para a queda de velocidade observada no ano passado.

 

Por outro lado, as operadoras brasileiras estão se concentrando principalmente no espectro das faixas médias mais altas, com apenas 1% das leituras 5G provenientes das faixas médias mais baixas (1,5 GHz e 2,6 GHz) e nenhuma das faixas baixas. A faixa de 3,5 MHz oferece maior capacidade e velocidade, mas tem características de propagação mais limitadas em comparação com 700 MHz.

 

A diferença no uso da largura de faixa do espectro também é crucial. A análise anterior da Opensignal mostra que uma largura de faixa maior do espectro está correlacionada com velocidades mais rápidas e melhor desempenho. Nossos dados mostram que, no Brasil, quase 40% das leituras 5G usam largura de faixa de mais de 100 MHz, permitindo que as redes 5G ofereçam velocidades mais rápidas e suportem o aumento da demanda por dados. Na Índia, por outro lado, esse número é de 18%.

 

Experiência do usuário: tempo nas diferentes tecnologias de rede 

 

 

Um elemento essencial da experiência do usuário é a quantidade de tempo gasto em diferentes gerações de redes móveis. No Brasil, o tempo em 4G continua dominante, com os usuários relatando um aumento no tempo gasto em redes 4G à medida que se afastam das redes 2G e 3G preexistentes. Na Índia, a história é diferente. O uso de 2G e 3G permaneceu estável, mas o tempo em 4G está diminuindo, sugerindo que os usuários conseguem passar mais tempo com uma conexão 5G ativa. No entanto, o aumento do tráfego 5G provocou uma pressão adicional sobre a infraestrutura 5G, particularmente em cidades com alta densidade populacional, onde a infraestrutura tem dificuldades para acompanhar a demanda durante os períodos mais movimentados do dia.

 

Nas análises anteriores da Opensignal, descobrimos que maiores quantidades de capacidade de espectro tendem a melhorar a experiência 4G e 5G. Observamos isso tanto na região da Ásia-Pacífico quanto na América Latina. Em geral, os mercados onde nossos usuários veem uma quantidade maior de espectro em faixa média 5G sendo usado para suas conexões 5G, eles também veem velocidades de download 5G mais rápidas.

 

 

Nossos usuários no Brasil se conectam a serviços 5G com larguras médias de faixa em torno de 70 MHz, resultando em velocidades de download 5G próximas a 350 Mbps. A Índia está um pouco atrás do Brasil em termos de largura de faixa usada e suas velocidades de download 5G são mais lentas.

 

Embora o espectro seja um fator crucial que influencia a experiência 5G dos usuários, há outros fatores que contribuem, como a densidade populacional e a infraestrutura de backhaul. A Índia é o segundo país mais populoso do mundo. De acordo com os dados mais recentes do Banco Mundial, a densidade populacional do país é de 473 habitantes por quilômetro quadrado, 18,5 vezes maior que a do Brasil, com 26 habitantes por quilômetro quadrado. A disponibilidade limitada de backhaul de fibra na Índia, especialmente em áreas rurais, leva a gargalos, diminuindo as velocidades de 5G. O backhaul móvel, embora comum em regiões rurais, não tem a capacidade de suportar o 5G de alta velocidade da mesma forma que a fibra.

 

Além disso, a baixa densidade populacional do Brasil com vastas áreas remotas, como a floresta amazônica, cria desafios econômicos para a implantação do 5G em áreas rurais e remotas. As operadoras enfrentam custos mais altos por usuário e menor retorno sobre o investimento (ROI) ao construir infraestrutura em regiões pouco povoadas.

 

As implementações do 5G na Índia e no Brasil demonstram duas abordagens distintas para o gerenciamento do espectro e a implantação da rede, cada uma com suas próprias vantagens e desafios. Tanto a Índia quanto o Brasil enfrentam o desafio de encontrar o equilíbrio perfeito entre cobertura e desempenho. No futuro, os dois países se beneficiarão de um gerenciamento cuidadoso do espectro. Embora o espectro desempenhe um papel fundamental, outros fatores, como congestionamento da rede, infraestrutura, capacidade de backhaul, disponibilidade de dispositivos 5G, tarifas 5G, geografia e nível de urbanização também influenciam a experiência 5G dos usuários.

 

A análise da Opensignal sobre a experiência 5G da Índia e do Brasil em parceria com a GSMA destaca a importância fundamental do gerenciamento do espectro. À medida que Índia e Brasil continuam a desenvolver suas estratégias de 5G, ambas as nações estão na vanguarda da conectividade móvel em suas regiões. Enquanto a Índia alcançou uma forte disponibilidade de 5G, o Brasil alcançou velocidades médias rápidas de download de 5G. À medida que refinam suas estratégias, a inovação e o investimento contínuos ajudarão a superar desafios como o congestionamento da rede e a conectividade rural, impulsionando a transformação digital e o crescimento econômico. O progresso feito até agora estabelece uma base sólida para que ambos os países liderem o 5G e inspirem outros mercados emergentes. Para obter mais perspectivas e uma análise mais profunda do impacto do espectro, assine o boletim informativo da Opensignal. Para ler mais sobre espectro, acesse GSMA Spectrum.

 

 

Nota metodológica - nomes das faixas:

  • Espectro em faixas baixas — frequências abaixo de 1 GHz

  • Espectro de faixas médias — frequências de 1 a 6 GHz

    • faixa média inferior — faixas de espectro entre 1,5 GHz e 2,6 GHz

    • faixa média superior — 3,3 GHz a 3,8 GHz (também conhecida como banda C)

  • mmWaves — espectro em ondas milimétricas - 24-100GHz